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Quais os desafios e competências para uma boa liderança em tempo de crise

Published 08/20/2020 by Daiane Yara Martins

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​As dificuldades trazidas pela efeitos da pandemia são capazes de destruir as ações de voluntariado? Com certeza, a resposta é não.
 
Ao contrário, a necessidade de isolamento social adotada como uma das formas de combate à disseminação do novo coronavírus (Covid-19) fortaleceu ainda mais os laços entre líderes e comunidades.
 
Quem contam essas histórias são os seus próprios atores. No dia 20 de agosto, o “Ciclo de Conversas” reuniu Roseli Bianchi, psicóloga e especialista em desenvolvimento social na Global Communities; Victor Oliveira, líder comunitário em Montenegro (RS) e Fabiana Zappe, integrante do comitê de voluntários da John Deere de Horizontina (RS) para compartilhar os “desafios e competências para uma boa liderança em tempo de crise”.
 
O evento aconteceu de forma 100% online e reuniu também outros líderes e voluntários que atuam no programa Semeando o Futuro. 

Apoiado pela Global Communities, o objetivo de promover o “Ciclo de Conversas” é de discutir temas sobre os mais diferentes aspectos dos tempos de crise.
 
“As comunidades fortalecidas são capazes de gestionar o seu próprio desenvolvimento, mesmo diante de uma grande crise. Esse é um dos valores fundamentais de nossa metodologia, a de desenvolver a auto suficiência local”, observa Roseli Bianchi, especialista em voluntariado e desenvolvimento comunitário da Global Communities Brasil.

Reinventar o trabalho voluntário sempre. Parar nunca.

Para Fabiana Zappe, a pandemia trouxe alguns aspectos importantes para a reflexão do trabalho voluntário. “Nesse momento em que todas as ações foram pausadas, foi preciso nos reinventar como voluntários. A contação de histórias para os idosos, por exemplo, continuou pelo celular. Já o projeto de robótica também segue de forma online para as crianças”, conta.

Ao mesmo tempo, segundo ela, o período também tornou ainda mais visível as desigualdades sociais. “Não devemos esquecer do jovem, que não tem o celular ou a internet. Vimos essa situação nas escolas em que somos voluntários. Nem todos tiveram a chance de permanecerem conectados. Mas não vamos desanimar. Tudo isso abriu os nossos olhos para enxergarmos a oportunidade de fazer muitas coisas”.

Os líderes e a proximidade junto às comunidades

Como um case de engajamento das lideranças, Fabiana citou a distribuição de cestas básicas na cidade de Horizontina. “Até o final de agosto foram entregues um total de 1300 cestas básicas. Isso se deu graças ao apoio da Fundação John Deere, que possibilitou a doação das cestas a partir do desconto na folha de pagamento. Já a distribuição ficou sob responsabilidade dos líderes do Semeando o Futuro, com o apoio da Global Communities”.

A voluntária contou como foi sua experiência na ação. “Havia um grande desafio, pois o público que estava apto a receber uma cesta deixou de ser o habitual e passou a englobar também os profissionais autônomos de serviços considerados como ‘não-essencial’. Para identificá-los, contamos com os líderes, pois eles conhecem bem essas pessoas”, menciona.

A decisão sobre a prioridade no recebimento desse auxílio não foi uma tarefa fácil, como Fabiana descreve. “Foram feitos cadastro de mais de 400 novas famílias. Foi muito importante ter alguém do convívio da comunidade nessa função. Foi uma parceria maravilhosa, não teríamos conseguido sem esse apoio”.

Fabiana também cita o envolvimento dos líderes da comunidade em outras iniciativas como o movimento “Juntos por Horizontina”, promovido pela ACIAP (Associação Comercial Industrial e Agropecuária) para fortalecer o comércio e a indústria.

Além disso, ela menciona a conquista do envolvimento do poder público nas ações iniciadas dentro do Semeando o Futuro. “Recebemos do programa um legado que nos permitirá continuar, mesmo depois do encerramento das atividades de treinamento da Global Communities”.
 
Ainda sobre o importante papel das lideranças neste momento de crise, Naja Souza, coordenadora regional do Semeando o Futuro na cidade de Montenegro (RS) menciona o “empoderamento” como a força que manterá os projetos prontos para serem retomados.
 
“Aqui na cidade estamos muito bem servidos de líderes. Todos são empoderados, com vontade de fazer a diferença. Faltava apenas a organização para começar as ações. Estamos com os caminhos bem trilhados, embora estejamos com os projetos pausados nesse momento de pandemia. Nossa expectativa é que vamos sair desse período com uma vontade ainda maior de fazer a diferença”, diz.

Conquistas depois da organização: pessoas capazes de melhorar a própria realidade 

Para Maria Janete Bernardes, líder comunitária no bairro Estação, em Montenegro/RS, o trabalho voluntário tem desafios, mas também é recompensador. “Conseguimos ver a vontade das pessoas em progredir”, acredita.

“Comecei na Pastoral da Criança há 5 anos. O bairro em que atuo é muito carente, pois moram muitos catadores. No começo, as reuniões eram feitas em uma garagem cedida por uma moradora. Fomos crescendo e há 4 anos conseguimos um espaço dentro da escola Ana Beatriz Lemos. Ali, o espaço também já ficou pequeno”.

Ela cita também outras dificuldades. “Somos responsáveis por fazer uma visita domiciliar mensal com foco no acompanhamento de gestantes e crianças até 6 anos. Esse acaba sendo um trabalho que atinge a família toda, pois não temos no bairro agentes de saúde”. 

Com a chegada do Semeando o Futuro e a implementação da metodologia da Global Communities, Janete comemora as mudanças. “Os voluntários fizeram uma área de lazer na praça há um ano. As pessoas não acreditavam que era posśivel, mas no dia da ação tivemos mais de 60 pessoas envolvidas. Depois, todos se engajaram na manutenção da praça”, comenta.

“Também quero reforçar aqui que a distribuição de cestas básicas pela Fundação John Deere, com o apoio da Global Communities, veio em um bom momento. A necessidade local é grande. Mesmo durante a pandemia, eu como líder tenho me deslocado até o local, pois não há infraestrutura de internet e telefone”, descreve Janete.

Lideranças que inspiram e movimentam as comunidades

Para Roseli Bianchi, ser um líder comunitário é um feliz desafio. “É necessário dedicação e envolvimento, pois todo o trabalho junto às pessoas demanda muita energia. Só posso  manifestar minha gratidão a todos”. 

“Ser voluntário é se dedicar, sem receber remuneração financeira. Por muitas vezes, você irá não irá se sentir reconhecido, Mas não se esqueça de seu papel de importância na comunidade. Isso motiva. Não desistam, pois não estamos nesse mundo por acaso. Estamos aqui para fazer a diferença na vida das pessoas”, lembra Fabiana Zape.

Já Victor Oliveira acredita que a característica maior dos líderes é o otimismo, mesmo diante das dificuldades. “Acreditamos que tudo irá melhorar. Sonho com o dia em que todos entenderão que estamos fazendo isso pelo bem maior. Queremos que todos sejam participativos. O próprio poder público, quando viu que nossa comunidade estava fazendo o que antes não era feito, passou a nos apoiar”, orgulha-se. 

Para Fernanda Mello, coordenadora de comunicação na Global Communities, as histórias devem servir para inspirar novas ações. “Eu como jornalista, gosto de contar histórias. Às vezes, alguém está apenas precisando de inspiração para colocar algo em prática”.

A coordenadora Naja encerra a conversa manifestando sua gratidão pela empenho de todos. “Obrigada por serem bons líderes, deixando um legado, doando seu tempo e o seu talento. Vocês estão fazendo um trabalho de coração que irá gerar bons frutos. Estamos com as expectativas altas para colocar de novo a ‘mão na massa’ e voltar com nossos projetos. E contamos com cada um de vocês para isso”, finaliza.

Quem quiser assistir na íntegra a conversa, pode acessar a página do Facebook da Global Communities Brasil ou acessar este link.

Ciclo de Conversas – Gestão Comunitária em tempos de crise

Durante o período de isolamento social – recomendado pelas autoridades de diversas regiões do Brasil e do mundo como uma das formas de contenção ao novo coronavírus (Covid-19) – a atuação junto às comunidades se tornou ainda mais essencial. Mas, para se adaptar a essa nova realidade, passou a acontecer de um jeito diferente.

Quando o encontro presencial não é possível, a solução é usar a tecnologia para manter o contato com líderes comunitários e voluntários participantes do programa Semeando o Futuro. Foi com este objetivo que a Global Communities iniciou, em agosto, o Ciclo de Conversas – Gestão Comunitária em tempos de crise.

A iniciativa promoveu uma série de encontros, 100% online, que contou com a participação de especialistas, líderes e voluntários para abordar temas sobre os mais diferentes aspectos dos tempos de crise.

Comunidade em ação​

A Global Communities, através do Programa Semeando o Futuro, incentiva o desenvolvimento comunitário colaborando com a construção de capacidades nas comunidades locais para que elas busquem as melhorias para as suas necessidades prioritárias através de práticas democráticas tornando-se autodeterminadas e desenvolvam sua autossuficiência comunitária.

Esta abordagem é trabalhada com as comunidades em etapas e estas por sua vez constroem a sua capacidade para controlar os bens comunitários e mobilizar recursos para resolver um determinado problema, bem como fortalece a flexibilidade e a união social.